Bancários sim senhor! Conquista das 6h na Caixa completa 40 anos

Há 40 anos, no dia 30 de outubro, os empregados e as empregadas da Caixa realizaram a primeira greve dos trabalhadores do banco. Até então chamados de economiários, os empregados protagonizaram um movimento histórico que culminou com a conquista do reconhecimento como bancários e, como consequência, a garantia dos direitos à sindicalização e à jornada de trabalho de 6h.
O Brasil ainda vivia os resquícios da ditadura quando quase 100% dos trabalhadores da Caixa paralisaram as atividades por 24 horas.
O movimento paredista, que mudou radicalmente a vida daqueles empregados e dos outros milhares que passaram ou que ainda estão na Caixa, é contado no documentário Vermelhos, realizado em parceria pelo Sindicato dos Bancários/ES e Apcef/ES.
Sob direção da cineasta Natália Dornelas, Vermelhos foi lançado no dia 25 de outubro, em evento comemorativo da data. O filme está disponível no canal do Sindibancários no Youtube.
“Foi muito especial conhecer essas pessoas, conhecer essa luta. A importância da luta coletiva foi algo que me inspirou muito. Então eu estou muito honrada de poder contar essa história. Espero que todos gostem”, afirmou a diretora do documentário.
Bancários sim senhor!
“A gente não sabia que estava fazendo história”, afirma Alice Martins no documentário. Ela era uma das integrantes da Comissão de Mobilização dos Empregados, ao lado de Ricardo Valença, Beth Gotardo, Carlos Caser e Jocilda Frota, entre outros e outras. “A sensação [ao final da greve de 24 horas do dia 30 de outubro] era de que a gente tinha feito uma revolução”, afirma Jocilda.
Rita Lima, diretora do Sindibancários/ES, lembrou: “Foi a minha primeira greve, foi a primeira greve do pessoal da Caixa. Então foi uma mudança de cultura; talvez, olhando de fora, a gente não tenha ideia da importância [do movimento], do que isso significou para nosso pertencimento de classe”, afirmou.

Eurico Scaramussa, aposentado da Caixa e um dos organizadores da greve de 1985, recebeu menção especial por ser o guardião de documentos, fotografias e outros arquivos que ajudaram a reconstruir a história da greve de 1985. “Eu sempre fui muito preocupado com essa questão da memória. Eu anoto tudo, guardo tudo. Esta é a minha contribuição para os movimentos pelos quais eu passei”, disse.
A greve de 1985 foi protagonizada por centenas de empregados da Caixa no Brasil e em todo o Espírito Santo. Mas a organização do movimento paredista em terras capixabas foi capitaneada por um grupo que atuava na Grande Vitória e em municípios como Colatina, Linhares e Cachoeiro. O documentário Vermelhos traz depoimentos de Alice Martins, Ângela Barone, Beth Gotardo, Bernadeth Martins, Carlos Caser, Edmar Martins, Eurico Scaramussa, Genivaldo Lievore, Gilson Soares, Gina de Carli, João Bosco, Jocilda Frota, José Carlos Gonçalves Rodrigues, Lindinalva da Silva, Maria Elvira, Sérgio Serra, Ricardo Valença, Rita Lima, Titony Barcelos e Welson Soares Jr.
Também fizeram parte da liderança do movimento no Espírito Santo os bancários e bancárias já falecidos: Waldemar Branco da Silva, Ivan Pedroso, Ademir de Souza, Cristina Duarte Barbosa, Sílvio Braga e Deonir Faria.

Origem da greve
As mobilizações que resultaram na greve de 1985 começaram muito antes, em 1981, quando a Caixa admitiu 20 mil empregados por meio de concurso. Eles e elas ingressaram no banco ganhando salário 50% inferior ao dos empregados que já trabalhavam na instituição.
A diferenciação causou descontentamento nos trabalhadores, que reivindicavam isonomia de tratamento. Diante das pressões, a Caixa realizou, em 1984, dois processos seletivos internos que possibilitavam o novo enquadramento de apenas 4 mil dos 20 mil contratados. Alguns empregados, em São Paulo, em forma de protesto, se negaram a fazer as provas. Eles foram demitidos, o que gerou uma grande mobilização em prol da reintegração desses trabalhadores, pelo reenquadramento dos 20 mil concursados, pelo reconhecimento dos empregados como bancários e, consequentemente, a garantia de jornada de seis horas e do direito à sindicalização. O movimento foi vitorioso e inaugurou uma série de conquistas posteriores para os bancários e bancárias da Caixa.

Com informações do Sindibancários/ES
