Luta histórica: há 39 anos, empregados da Caixa conquistavam jornada de 6h
Nesta quarta-feira, 30 de outubro, celebra-se 39 anos da conquista da jornada de 6h na Caixa. Esse direito foi resultado de uma greve histórica de 24 horas, que contou com grande adesão dos trabalhadores do banco, então considerados economiários. Além da jornada de 6h e do reconhecimento como bancários, os trabalhadores da Caixa conquistaram ainda o direito à sindicalização. No Espírito Santo, 100% das agências foram paralisadas.
A greve aconteceu em 1985, em meio à efervescência de movimentos sociais durante a chamada transição democrática. O país vivia o período final da ditadura militar iniciada com o golpe de Estado de 1964. Rita Lima, diretora da Apcef/ES e do Sindibancários/ES, esteve entre as trabalhadoras que construíram a paralisação e resgata a simbologia dessa data.
“Foi uma greve de um único dia que marcou a nossa história para sempre. Nossa pauta não tinha questões econômicas, queríamos ser bancários e ter direito à sindicalização, e temos poucos registros de greves similares. Isso, do ponto de vista político, demonstra uma maturidade, uma consciência do nosso pertencimento à classe trabalhadora. Sem falar que foi um movimento organizado pela base, a partir dos locais de trabalho, então é uma greve muito simbólica, não podemos esquecê-la”, afirma.
Rita destaca ainda o papel da Fenae e das Apcefs na organização do movimento paredista nacionalmente e no Espírito Santo. “A Apcef era onde nos reuníamos pra discutir e organizar o nosso movimento, era um espaço espaço de vanguarda e foi determinante nessa liderança política”, lembra.
O passado é presente
Mas a luta pelas 6h não ficou apenas no passado. Todos os anos os bancários da Caixa celebram essa conquista como forma de resistir às medidas que ameaçam o seu direito à jornada.
“Os banqueiros sempre pressionam para acabar com a jornada de 6h. Além da reforma trabalhista, que permite a ampliação da jornada via acordos individuais, a carência de empregados no banco aumenta a exploração, gerando sobrecarga e sofrimento. Temos que lembrar que essa luta dialoga com a nossa qualidade de vida. Queremos ter a possibilidade de trabalhar menos para que a gente viva mais e com saúde. O quadro de adoecimento dos bancários hoje revela uma verdadeira epidemia e coloca na ordem do dia a necessidade de defender a nossa jornada e, inclusive, de trabalharmos menos, com uma jornada de 4 dias por semana”, destaca Rita, apontando para os novos desafios do movimento da Caixa frente às más condições de trabalho.
Greve de 1985 - Como tudo começou
Entre entre 1980 e 1981, a Caixa realizou concurso público para contratar 20 mil escriturários básicos, que ingressaram na carreira no banco com salário 50% inferior ao do pessoal que já trabalhava na estatal. A diferenciação salarial levou os trabalhadores a reivindicarem isonomia de tratamento.
Em 1984, face à pressão fortemente articulada nacionalmente, a direção do banco promoveu dois processos seletivos que permitiram o enquadramento de apenas 4 mil dos 20 mil escriturários básicos. Um grupo de bancários, sobretudo em São Paulo, se recusou a fazer as provas.
O protesto paulista culminou na demissão de alguns trabalhadores, o que provocou uma grande mobilização não só pelo enquadramento dos 20 mil escriturários aprovados no concurso, mas também pela jornada das 6 horas, pelo reconhecimento dos empregados da Caixa como bancários e pelo direito à sindicalização. Uma mudança significativa e que demonstra a importância dos sindicatos e da organização dos trabalhadores.
Paralisação, 30 de outubro de 1985
A greve pelas 6 horas foi construída a partir da mobilização dos auxiliares de escritório, que buscavam ser enquadrados ou reconhecidos como escriturários básicos na carreira técnico-administrativa e não mais como economiários. A data da paralisação, em 30 de outubro de 1985, foi aprovada no 1º Conecef, realizado em Brasília com mais de 500 participantes.
A greve de 24 horas foi o primeiro movimento de alcance nacional da história do banco público, e teve a participação decisiva da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), fundada em 29 de maio de 1971, e das Associações de Pessoal da Caixa (Apcefs) em todo o Brasil.
Depois de muitas idas e vindas institucionais, a lei que estabelecia a jornada das 6 horas para o pessoal da Caixa foi sancionada em 17 de dezembro de 1985. No dia seguinte à sanção presidencial, o “Diário Oficial da União” trazia ainda a garantia do direito à sindicalização de todos os empregados da Caixa, viabilizada com a alteração do parágrafo único do artigo 556 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Em 1º de janeiro de 1987, entra em vigor a jornada das 6 horas.
Com informações da Fenae e Sindibancários/ES